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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Como a Nobreza Alemã substituiu a Nobreza Italiana como referencial de nobreza

Por:
Sua Alteza Sereníssima
o Príncipe Andre III Trivulzio-Galli, 14º Príncipe de Mesolcina e do Sacro Império Romano-Germânico, 18º Conde Imperial de Hinterrhein.

Poucas coisas tinham o caráter de unir a Nobreza Europeia, mas uma delas sempre foi o chamado "Referencial Cultural". Esta espécie de "bússola" da Nobreza, sempre teve o caráter de mostrar qual seria o padrão a ser seguido pela Nobreza, quer em nomes, títulos ou comportamentos.

Quando nos referimos a "Nobreza Europeia", nos referimos na verdade a Nobreza "Centro"-Europeia, ou mais precisamente, à Nobreza daqueles países que estavam abaixo da Águia do Sacro Império Romano-Germânico. 

Esta Nobreza, espalhada em centenas de Principados, Condados, Baronatos, Ducados, Reinos, Eleitorados, Bispados e demais Feudos, separada por milhares de quilômetros, era unida porém em uma única coisa, o Referencial Cultural, que ditava a moda em todas as Cortes Principescas daquele vasto e Santo Império. 

Príncipe Antonio VIII Trivulzio-Galli, 5º Príncipe de Mesolcina e do Sacro Império Romano-Germânico, com as insígnias da Ordem do Tosão de Ouro, exemplo de Príncipe Italiano do século XVIII.


Desde a Fundação do "Novo" Império Romano, na pessoa de Carlos Magno no ano 800, o Referencial Cultural era aquele italiano. A melhor Nobreza era a italiana, as melhores cidades eram aquelas da Itália, a melhor língua, o latim. Tudo de bom, e de cultural era italiano. Neste período, era a Capital da Fé a italiana Roma, a Capital da Cultura, a italiana Florença, e a Capital da Europa, a italiana Milão. Milão, tão importante que era, era tida como a Capital Moral do Império. Cidade de tamanha importância, que os próprios Imperadores concederam o privilégio único de possuir um Senado. 

Neste período, as principais famílias alemãs procuraram "lançar" suas raízes nas antigas Famílias Nobres Italianas. Os Condes von Taxis buscaram desesperadamente conseguir traçar sua genealogia até atingirem a Casa Italiana dos della Torre, que governou Milão antes dos Visconti. Quando o conseguiram, buscaram a aprovação imperial para usarem o nome de "della Torre e Tasso", e com este nome, chegaram ao posto de Príncipes Imperiais em 1676.



A própria Casa dos Eleitores alemãs de Hannover, que governaram a Grã-Bretanha e seu vasto Império Colonial, tiveram de buscar demonstrar que eram descendentes da família italiana D'Est, que era a família Ducal de Módena, pois sabiam que jamais seriam aceitos como parte da Alta Nobreza, caso não fossem descendentes de italianos. 

Não pode ser dado exemplo maior do que o fato de que o próprio nome da Família Cesar, que deu os primeiros Imperadores à Roma Antiga, dos quais os Sacro Imperadores eram "Sucessores" passou a ser utilizado para designar os próprios Imperadores Alemães, que se intitularam "Kaiser" ("Cesar", em alemão), sendo que até mesmo a Corte Imperial era chamada de "Corte Cesárea". 

Os próprios títulos utilizados pelos Príncipes, soavam melhor quando utilizados em língua italiana. Apesar de ser mais fácil a denominação de "Fürst", soava melhor os príncipes serem chamados por "Principe Titolare", termo italiano utilizado pelos Chefes das Famílias Principescas. Os casamentos de maior renome eram aqueles realizados com as filhas dos Condes ou Príncipes italianos. A própria família dos Príncipes de Mônaco, buscaram "reviver" seu sobrenome italiano Grimaldi, para assim demonstrarem sua importância, e conseguirem um casamento com os Príncipes de Mesolcina da Casa italiana dos Trivulzio. 

Napoleão I. Óleo sobre tela de Luís Camilo Alves.


Tudo isto mudou, porém, com o advento de Napoleão I, que pôs fim ao Sacro Império. A partir de 1806, uma lenta e gradativa mudança no padrão cultura fez com que as famílias alemãs se sobrepusessem às famílias italianas. Neste período, que dura até nossos dias, o nascente "patriotismo alemão", fonte para depois a formação do nazismo, fez com que as antigas famílias principescas buscassem "germanizar" seus nomes e costumes. Assim, os Príncipes della Torre e Tasso, passaram a serem chamados de Príncipes von Thurn und Taxis; os Condes della Torre e Val Sassina, passaram a serem designado por Condes von Thurn und Valssassina, e assim por diante. 

Todos estes fatores de mudança no "Referencial Cultural" passaram a ter por base o maior elemento de germanização da Nobreza Europeia: o Almanach de Gotha. Este "anuário genealógico", cuja grande missão foi a de fazer a Nobreza luterana alemã se tornar mais importante que a Nobreza Católica italiana, passou a listar as famílias alemãs como mais importante que as família italianas. Assim, um simples Conde não Soberano alemão, passou a ser mais bem visto do que um Príncipe Soberano italiano, austríaco ou polaco. 

Armas da Casa alemã e luterana dos Reis da Prússia, que substituíram os Católicos Habsburgo no período do Referencial Cultural alemão.


Não foi outro, se não o Almanach de Gotha, o responsável por perverter o Referencial Cultural da Europa, fazendo com que muitas Casas da Alta Nobreza de países como Portugal, Espanha, França e Inglaterra, buscassem casamentos com famílias de baixa nobreza alemã, na esperança de assim terem uma boa "colocação" no Almanach de Gotha. 

Nestas duas imagens abaixo, pode-se ilustrar totalmente a mudança no "Referencial Cultural" exposto assima:

Na primeira:

O período italiano: na contracapa do Almanach de Gotha, edição de 1781, vemos uma figura feminina com uma Coroa Principesca, representando à Itália, ela segura um escudo com as Armas dos Habsburgo-Lorena, e acima de sua cabeça os brasões do Ducado de Milão, do Grão-Ducado da Toscana, da República de Gênova, e de outras cidades italianas. 


Na segunda:

O período alemão: na contracapa do Almanach de Gotha de 1807, vemos uma figura feminina, com um capacete militar, representando à Alemanha, ela segura um escudo com as Armas da Casa de Wettin, e de outros Príncipes Alemães. Na alegoria, não há mais referências à Itália, somente à Alemanha.