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domingo, 11 de janeiro de 2015

Mentiras contadas com a Heráldica

Como sabem os especialistas na chamada "Ciência Heroica", nem sempre o que se coloca nos Brasões de Armas, simboliza a pura realidade. Mas isto é um costume muito antigo, que tem, pode-se dizer, origem nos Estados que compunham a Europa do século XIV. 

Armas dos Duques Soberanos de Anhalt-Dessau, onde podem ser vistas Armas de muitos Feudos, que há séculos não pertencem à esta Casa Principesca e Ducal.

Já naquela época, muitos Príncipes ao perderem seu domínio temporal, continuavam a manter em seus escudos os elementos heráldicos que compunham os domínios perdidos, e passavam, depois, tais "pretensões heráldicas" aos seus descendentes. 

Há isto, contudo, não se pode chamar de uma mentira, uma vez que o Príncipe que perdeu seus domínios de uma forma que não lhe convinha, tinha um certo direito moral em conservar pelo menos a lembrança em suas Armas do Feudo perdido.

Exemplos do uso da heráldica: No brasão da direita, as Grandes Armas do Rei da Espanha, onde se colocam, entre outras, as Armas do Reino Latino de Jerusalém, que jamais pertenceu à Coroa Espanhola!

Contudo, quando nos referimos a MENTIRAS CONTADAS COM A HERÁLDICA nos referimos as atos cometidos por quem, mesmos após a morte do, ou da, titular de algum brasão, o altera, com a ideia pura e simples de falsear a verdade, e de modificar a verdadeira história.

Um dos mais famosos casos de mentiras contadas com o auxílio da heráldica se dá com a falecida Princesa Maria de las Mercedes de Bourbon e Orléans, Condessa de Barcelona e mãe de Sua Majestade o Rei Juan Carlos da Espanha, e portanto avó do atual Monarca espanhol Felipe VI. 

Brasão dado às Princesas das Duas Sicílias (Casa de Bourbon)


Esta princesa foi filha do Infante da Espanha Carlos Tacredo de Bourbon, nascido Príncipe Carlo Maria Tancredi de Bourbon-Duas Sicílias, Conde de Caserta, filho do Alfonso de Bourbon-Duas Sicílias, Duque de Castro, e Chefe da Casa Real das Duas Sicílias. 


 
Brasão tradicionalmente concedido às Princesas da Casa de Bourbon-Espanha

Este Príncipe italiano, Carlo Maria Tancredi, aceitou casar-se com a Infanta espanhola Dona Maria de las Mercedes Isabel de Bourbon, que se presumia na época, seria a futura Rainha da Espanha. Para se casar com ela, Carlo Maria abriu mão de seus títulos italianos, passando a adotar o sobrenome da esposa, o que não era um grande problema, pois ambos eram primos, e tinham o mesmo sobrenome. O que ocorreu foi que Carlo Maria Tancredi de Bourbon das Duas Sicílias, Conde de Caserta, passou a ser Carlos Tancredo de Bourbon, Infante da Espanha. 

Como pode ser percebido, Carlos Tancredo deixou de ser um Príncipe Italiano, para ser um Príncipe Espanhol. O que ninguém imaginava, é que nasceria um irmão homem para a Princesa Maria de las Mercedes Isabel, e este seria o Rei Afonso XIII da Espanha.

Brasão de Armas verdadeiro de Sua Alteza Real a Condessa de Barcelona, Rainha de Iuris da Espanha, partidas com as de seu esposo, o Rei de Iuris da Espanha Juan III da Espanha.


Os filhos do Príncipe Carlos Tancredo, que agora assinava Bourbon-Espanha, foram todos intitulados "Príncipes da Casa de Bourbon-Espanha", com o tratamento de Altezas Reais. Receberam este título espanhol pois não possuíam nenhum direito ao Trono italiano das Duas Sicílias, já que a renúncia de seu pai atingiu todas as gerações vindouras.   

Armas falsas da Condessa de Barcelona, criadas após a sua morte, e qua a fazem parecer um Princesa das Duas Sicílias.


Ocorre porém que um sobrinho da falecida Condessa de Barcelona, que é Infante da Espanha e membro pleno da Casa Real Espanhola, resolveu rasgar as páginas da história, esquecer a renúncia feita pelo Infante Carlos Tancredo, e passou a se autointitular como "Duque de Calabria" (título que foi rapidamente confirmado por seu primo o Rei Rua Carlos I da Espanha, na tentativa de evitar algum vexame familiar), e passou a se dizer "Chefe da Casa Real das Duas Sicílias".

Lado-a-lado as Armas verdadeiras (à direita) e falsas (à esquerda) da Rainha de Iuris da Espanha, a Condessa de Barcelona. Como pode-se ver, nenhum heraldista se "enganaria" tanto assim.


Nesta hora a Heráldica pode ser usada para fatos realmente terríveis, pois, mesmo a Condessa de Barcelona sempre ter ridicularizado as pretensões ao Trono Siciliano de seu primo, após a morte da Condessa de Barcelona em 2000, seu Brasão de Armas foi alterado, de modo a fazer parecer que ela era um Princesa das Duas Sicílias.

São estes usos indevidos da Heráldica, que servem apenas para perpetrar mentiras e tentar mudar a própria história.         

2 comentários:

  1. Poderia postar também o brasão de Dona Isabel, casada com o Conde Alexander Stolberg?

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  2. Poderia postar também o brasão de Dona Isabel, casada com o Conde Alexander Stolberg?

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