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domingo, 25 de janeiro de 2015

Os Príncipes de Orléans-Bragança


Uma das Casas Principescas mais intrigantes do mundo é com certeza a Casa Principesca de Orléans-Bragança. Esta Casa Principesca surgiu do casamento de Sua Alteza Imperial o Príncipe Dom Pedro de Alcântara Luís do Brasil, Príncipe Imperial do Brasil, com a Condessa Elizabeth Dobrzenzky von Dobrezenicz. Dom Pedro de Alcântara era filho de Dona Isabel I, Imperadora* de Iuri do Brasil, e do Príncipe Luís Gastão de Orléans, Conde d'Eu. Ocorre que Dona Isabel I, Chefe da Casa Imperial do Brasil (filha do Imperador Dom Pedro II do Brasil), não aceitou o casamento do filho, pela futura esposa não ser considerada da Alta Nobreza.

Dom Pedro de Alcântara Luís teve então de renunciar para si próprio e para toda a sua descendência os seus Direitos à Coroa Brasileira. 

Porém Dom Pedro de Alcântara Luís era, por via paterna, membro da Casa de Orléans, ramo cadete da Dinastia Carolíngia, que chegou de fato a reinar na França com o Rei Luís Felipe I dos Franceses. Desta forma, como membro da Casa de Orléans, Dom Pedro de Alcântara Luís recebeu o título de Príncipe de Orléans-Bragança** (já que sua mãe foi o último membro da Casa de Bragança, que se extingui em sua linha varônica com o falecimento de Dom Pedro II do Brasil). 

Desta forma, Dom Pedro de Alcântara Luís do Brasil tornou-se o Príncipe Pedro I de Orléans-Bragança, Chefe da Casa Principesca deste nome, com direitos ao Trono Francês, mas sem nenhum direito ao Trono do Brasil. 

Seu irmão o Príncipe Dom Luís Maria Felipe do Brasil tornou-se o novo Príncipe Imperial do Brasil, e foi seu filho, o Príncipe Dom Pedro III quem sucedeu a Dona Isabel I como Imperador de Iuri do Brasil.

Brasão de Armas dos Príncipes de Orléans-Bragança


Como Dom Pedro I de Orléans-Bragança deixou de ser um Infante Brasileiro, perdeu também o direito ao uso do Brasão dos Infantes deste país. Como não recebeu outro Brasão de Armas, aceita-se universalmente que passou a utilizar as armas de sua família paterna, ou seja, pleno de Orléans, que são as Armas da França, com a diferença de um lambel de prata. Como Dom Pedro I de Orléans-Bragança perdeu suas relações com a Casa Imperial do Brasil, sua precedência passou a ser em relação ao Chefe da Casa de Orléans, que era naquele tempo o Príncipe Luís Felipe de Orléans, seu primo. Como primo do Chefe da Casa Real de Orléans Dom Pedro I de Orléans-Bragança tinha direito a usar seu escudo de armas dentro do manto azul flordelizado d'ouro, com a coroa heráldica de Príncipe de Sangue da França. 

Brasão de Armas de Elisabeth von Dobrzenky, Princesa Consorte de Orléans-Bragança


Após se casamento com a Condessa Elizabeth, esta se converteu em Princesa Consorte de Orléans-Bragança, e passou a receber o tratamento de "Sua Alteza Real", cabível ao esposo como Infante da Casa de Orléans. 

Deste casamento nasceram muitos filhos proeminentes, como Sua Alteza Real a Princesa Isabel de Orléans-Bragança, casada com o Príncipe Henri de Orléans, Conde de Paris, Chefe da Casa de Orléans;
A Princesa Maria Francisca de Orléans-Bragança, casada com o Príncipe Dom Duarte Pio, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real de Portugal;
E o próprio Príncipe Dom Pedro de Alcântara Gastão, que seria o futuro Chefe da Casa Principesca de Orléans-Bragança. 

Após a morte do pai, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara Gastão de Orléans-Bragança tornou-se o Príncipe Dom Pedro II de Orléans-Bragança, e casou-se com a Princesa espanhola Dona Maria Esperança de Bourbon, Princesa de Bourbon-Espanha; filha do Infante Carlos Tancredo da Espanha (nascido Príncipe das Duas Sicílias, mas que renunciou a seus Direitos ao Trono daquele país para se casar com a prima, a Princesa das Astúrias Dona Maria de las Mercedes da Espanha. Para saber mais sobre o assunto, clique aqui).

Brasão de Armas da Princesa Maria Esperança de Bourbon-Espanha e Orléans, Princesa Consorte de Orléans-Bragança.


Deste casamento nasceram Dom Pedro Carlos, que depois viria a ser o 3º Príncipe Titular de Orléans-Bragança como Dom Pedro III de Orléans-Bragança; a Princesa Maria de Glória de Orléans-Bragança, que por seu primeiro casamento tornou-se Princesa da Sérvia e Iugoslávia, e por seu segundo casamento tornou-se Duquesa Consorte de Segorve; e mais quatro filhos, entre eles a Princesa Maria Cristina de Orléans-Bragança, que casou-se com o Príncipe polaco Jan Pavel Sapieha-Rozanski. Por este casamento a Princesa Maria Cristina passaria a ter o tratamento de "Sua Alteza Sereníssima", porém como o seu tratamento de "Alteza Real" era mais elevado, permaneceu com o seu tratamento próprio em detrimento do tratamento dado ao esposo.

Brasão de Armas da Princesa Maria Cristina de Orléans-Bragança, Princesa Consorte de Sapieha-Rozanski


Deste casamento, nasceram as Princesas Ana Teresa Sapieha-Rozanski, e Paola Maria Sapieha-Rozanski, ambas com o tratamento paterno de "Altezas Sereníssimas as Princesas de Sapieha-Rozanski". Curioso é o fato de que nenhuma delas jamais fez parte da Casa Principesca de Orléans-Bragança, uma vez que filhas do um Príncipe da Casa de Sapieha-Rozanski, porém a Princesa Paola passou a ser conhecida por "Dona Paola de Orléans". O tratamento de "Dona" somente é dado às Infantas da Casa Imperial do Brasil, algo que a Princesa Paola Sapieha-Rozanski jamais foi.

Brasão de Armas da Princesa Paola Sapieha-Rozanski, Princesa de Swiatopolk-Czetwertyanski


Paola Sapieha-Rozanski casou-se com o Príncipe polonês Constantin Swiatopolk-Czetwertynski, conservando após o casamento o tratamento de "Sua Alteza Sereníssima".   

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Notas:
* Imperadora é a Chefe do Estado Monárquico cujo Soberano recebe o título Imperial. Imperatriz é a Consorte do Chefe do Estado Imperial. O mesmo caso acontece nos títulos de Empaixadora e Embaixatriz.  

** A Princesa Isabel de Orléans-Bragança, Condessa de Paris revelou que o título original deveria ser de "Príncipe de Orléans-Eu", para dar continuidade ao título do avô, o Príncipe Gaston de Orléans, Conde d'Eu.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Mentiras contadas com a Heráldica

Como sabem os especialistas na chamada "Ciência Heroica", nem sempre o que se coloca nos Brasões de Armas, simboliza a pura realidade. Mas isto é um costume muito antigo, que tem, pode-se dizer, origem nos Estados que compunham a Europa do século XIV. 

Armas dos Duques Soberanos de Anhalt-Dessau, onde podem ser vistas Armas de muitos Feudos, que há séculos não pertencem à esta Casa Principesca e Ducal.

Já naquela época, muitos Príncipes ao perderem seu domínio temporal, continuavam a manter em seus escudos os elementos heráldicos que compunham os domínios perdidos, e passavam, depois, tais "pretensões heráldicas" aos seus descendentes. 

Há isto, contudo, não se pode chamar de uma mentira, uma vez que o Príncipe que perdeu seus domínios de uma forma que não lhe convinha, tinha um certo direito moral em conservar pelo menos a lembrança em suas Armas do Feudo perdido.

Exemplos do uso da heráldica: No brasão da direita, as Grandes Armas do Rei da Espanha, onde se colocam, entre outras, as Armas do Reino Latino de Jerusalém, que jamais pertenceu à Coroa Espanhola!

Contudo, quando nos referimos a MENTIRAS CONTADAS COM A HERÁLDICA nos referimos as atos cometidos por quem, mesmos após a morte do, ou da, titular de algum brasão, o altera, com a ideia pura e simples de falsear a verdade, e de modificar a verdadeira história.

Um dos mais famosos casos de mentiras contadas com o auxílio da heráldica se dá com a falecida Princesa Maria de las Mercedes de Bourbon e Orléans, Condessa de Barcelona e mãe de Sua Majestade o Rei Juan Carlos da Espanha, e portanto avó do atual Monarca espanhol Felipe VI. 

Brasão dado às Princesas das Duas Sicílias (Casa de Bourbon)


Esta princesa foi filha do Infante da Espanha Carlos Tacredo de Bourbon, nascido Príncipe Carlo Maria Tancredi de Bourbon-Duas Sicílias, Conde de Caserta, filho do Alfonso de Bourbon-Duas Sicílias, Duque de Castro, e Chefe da Casa Real das Duas Sicílias. 


 
Brasão tradicionalmente concedido às Princesas da Casa de Bourbon-Espanha

Este Príncipe italiano, Carlo Maria Tancredi, aceitou casar-se com a Infanta espanhola Dona Maria de las Mercedes Isabel de Bourbon, que se presumia na época, seria a futura Rainha da Espanha. Para se casar com ela, Carlo Maria abriu mão de seus títulos italianos, passando a adotar o sobrenome da esposa, o que não era um grande problema, pois ambos eram primos, e tinham o mesmo sobrenome. O que ocorreu foi que Carlo Maria Tancredi de Bourbon das Duas Sicílias, Conde de Caserta, passou a ser Carlos Tancredo de Bourbon, Infante da Espanha. 

Como pode ser percebido, Carlos Tancredo deixou de ser um Príncipe Italiano, para ser um Príncipe Espanhol. O que ninguém imaginava, é que nasceria um irmão homem para a Princesa Maria de las Mercedes Isabel, e este seria o Rei Afonso XIII da Espanha.

Brasão de Armas verdadeiro de Sua Alteza Real a Condessa de Barcelona, Rainha de Iuris da Espanha, partidas com as de seu esposo, o Rei de Iuris da Espanha Juan III da Espanha.


Os filhos do Príncipe Carlos Tancredo, que agora assinava Bourbon-Espanha, foram todos intitulados "Príncipes da Casa de Bourbon-Espanha", com o tratamento de Altezas Reais. Receberam este título espanhol pois não possuíam nenhum direito ao Trono italiano das Duas Sicílias, já que a renúncia de seu pai atingiu todas as gerações vindouras.   

Armas falsas da Condessa de Barcelona, criadas após a sua morte, e qua a fazem parecer um Princesa das Duas Sicílias.


Ocorre porém que um sobrinho da falecida Condessa de Barcelona, que é Infante da Espanha e membro pleno da Casa Real Espanhola, resolveu rasgar as páginas da história, esquecer a renúncia feita pelo Infante Carlos Tancredo, e passou a se autointitular como "Duque de Calabria" (título que foi rapidamente confirmado por seu primo o Rei Rua Carlos I da Espanha, na tentativa de evitar algum vexame familiar), e passou a se dizer "Chefe da Casa Real das Duas Sicílias".

Lado-a-lado as Armas verdadeiras (à direita) e falsas (à esquerda) da Rainha de Iuris da Espanha, a Condessa de Barcelona. Como pode-se ver, nenhum heraldista se "enganaria" tanto assim.


Nesta hora a Heráldica pode ser usada para fatos realmente terríveis, pois, mesmo a Condessa de Barcelona sempre ter ridicularizado as pretensões ao Trono Siciliano de seu primo, após a morte da Condessa de Barcelona em 2000, seu Brasão de Armas foi alterado, de modo a fazer parecer que ela era um Princesa das Duas Sicílias.

São estes usos indevidos da Heráldica, que servem apenas para perpetrar mentiras e tentar mudar a própria história.