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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nos tempos do Duque de Nemours


Muito pouco se menciona o Grão Magistério do Príncipe Carlos Filipe de Orléans, Duque de Nemours, e este fato pode ser verificado, tanto pela curta duração deste reinado, como pelo fato de ter sido o único Orléans a ter conseguido ser Eleito Príncipe e Grão Mestre da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém.

Após a morte, em 1952, do Príncipe Dom Francisco de Bourbon, IV Duque de Sevilha, que foi Grão Mestre da Ordem de São Lázaro com o nome de Francisco IV, seu filho, o Príncipe Francisco de Bourbon e de Bourbon, Príncipe de Sangue da França, foi Eleito Grão Mestre, e reinou com o nome de Francisco V.

Francisco V tinha por profissão a de Tenente Coronel de Cavalaria do Exército Espanhol, de modo que não poderia dedicar-se completamente aos assuntos ligados à Ordem. Decidiu então o Grão Mestre nomear um Administrador Geral para a Ordem. O escolhido foi o Grão Prior da França, Sua Excelência Pierre Timoléon de Cossé, XII Duque de Brissac, que passou a governar a Ordem em 1956.

Brasão do Duque de Brissac como Administrador Geral da Ordem

Um novo impulso tomou a Ordem nestes primeiros anos: a Administração foi definitivamente transferida para a França, e novos Grão Priorados foram criados, como na Escócia, Inglaterra, Irlanda, Canadá, Suécia, Portugal e Hungria. Neste mesmo período a Ordem de São Lázaro voltou a sua tradição secular, recuperando as Comendadorias de Boigny, na França, de Burton Lazer, na Inglaterra, de Linilithgow, na Escócia e de Seedorf e Gfenn, na Suíça. Em 1967 o Conselho Geral da Ordem transferiu definitivamente a Sede Magistral da Ordem da cidade de Madri, na Espanha, para o Castelo de Boigny, Sede do Grão Magistério da Ordem dês do século XIII.

Porém não demorou muito para que o Grão Mestre e o Administrador Geral se desentendessem seriamente, levando o Duque de Brissac a acusar o Príncipe Espanhol do abandono da Ordem. Para dirimir o conflito, fora reunido um Capítulo Geral, que terminou por Eleger um novo Grão Mestre, na pessoa de Sua Alteza o Príncipe Charles Filippe d'Orléans, Duque de Nemours.


Capítulo Geral em Boigny, onde fora Eleito o Duque de Nemours
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O Duque de Nemours havia nascido na França, em 1905, no Castelo de Neuilly-sur-Seine. Filho do Príncipe Manuel de Orléans, Duque de Vendôme, e da Princesa Enriqueta da Bélgica, teve três irmãs maiores, as Princesas de Orléans Maria Luísa, Sophia e Genoveva. O Duque de Orléans, Chefe da Casa de Orléans, ramo cadete da Casa de Bourbon que é a Casa Real da França, foi escolhido para ser seu padrinho, porém como era proibido de pisar o solo francês, foi representado no Batizado pelo Duque de Alençon, sendo a madrinha a avó, Condessa de Flandres. Recebeu a Primeira Comunhão das mãos do Santo Padre o Papa Pio X.

Educado na Inglaterra, o jovem príncipe era um amante da cultura britânica, do constitucionalismo inglês e do progresso dos EUA. O príncipe que era alcoólatra dês de curta idade, conheceu em uma de suas viagens a Nova York em 1926 a americana Margaret Watson, seis anos mais velha que ele, que por ser filha de um casal de atletas, havia se tornado uma moça de boas relações dentro da alta sociedade nova iorquina. Era conhecida até então por já ter sido noiva de Angier Biddle Duke e de Reginald Vanderbilt. 


O jovem Duque de Nemours

O jovem Duque de Nemours apaixonou-se perdidamente pela mulher belíssima e sorridente, e passaram a viver em pecado, ao passo que a Casa de Orléans pronunciou-se contra ela, lhe atribuindo o alcoolismo de ambos. Os Orléans passaram a vê-la como uma caça-fortunas sem escrúpulos, uma alcoólatra imoral e dissoluta, fatos que não correspondiam a realidade, pois apesar da jovem ser realmente frívola e superficial, amava verdadeiramente o Duque de Nemours, e sempre se comportou com a dignidade exigida da Nobreza para uma princesa.

Para tentar evitar maiores falatórios, o casal uniu-se em Matrimônio em uma cerimônia civil, em Paris, logo seguida por uma Cerimônia Religiosa, na Igreja de St. Pierre de Neuilly, em 25 de setembro de 1928. Nenhum membro da Casa Principesca de Orléans compareceu, e os pais do noivo tentaram em vão que a Santa Sé anulasse o casamento.

Brasão d'Armas do Duque de Nemours, como 46o Príncipe e Grão Mestre da
Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém, d'Aquém e d'Além Mar.

Admitido em Madri como Cavaleiro da Grã Cruz de Justiça da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém em 1941, já era então Bailio da Grã Cruz de Honra e Devoção da Soberana Ordem de São João de Jerusalém, Rodes e de Malta. Foi também Cavaleiro da Grã Cruz de Justiça da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, além de ser Cavaleiro Grã Cruz de Justiça da Sacra Ordem Constantiniana de são Jorge, do Reino das Duas Sicílias.

Nemours viu-se endividado, após aplicar uma grande fortuna em um negócio de criação de gado em Rabat, o que forçou a mãe, a Duquesa de Vendôme e se desfazer de mais da metade dos seus bens, inclusivo do mundialmente famoso Castelo de São Miguel de Cannes, para com isso, solver as dívidas do único filho. Durante a II Guerra Mundial, tentou em vão juntar-se ao Exército Livre Francês, mas não foi aceito. Fora então duas vezes preso pelos alemães por atividades anti-nazistas.

Sua Alteza o Duque de Nemours e sua juventude.

Após o fim da Guerra dos Duques de Nemours passaram a viver em seu apartamento nos Campos Elísios, na Rua Chateubriand em Birritz e na Residência da Família em Magdalena, em Tânger. O único contato que tinha com o Duque de Orléans, que então já usava o título de "Conde de Paris" era um cartão de felicitações, enviado uma vez ao ano.

Com o auxílio da esposa, o Duque de Nemours pode abandonar de vez o vício do alcoolismo, de modo que pôde aceitar dignamente a sua Eleição como o 46º Príncipe e Grão Mestre da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém. 


O Duque de Nemours como Grão Mestre da Ordem de São Lázaro.

Em seu reinado foram codificadas as Leis da Ordem, bem como os Estatutos e escritos os Costumes e Tradições. Ao nomear como Grão Referendário da Ordem o Coronel Britânico Gayre de Gayre e Nigg, no lugar do Marquês de Cárdenas de Montehermoso, o Duque de Nemours teve de enfrentar a ira do Duque de Brissac, que correu a reunir novo Capítulo Geral para o depor.

Para evitar a injusta deposição, o Duque de Nemours mudou a Sede do Grande Magistério do Castelo de Boigny, para a Ilha de Malta, onde o Coronel Gayre possuía grande influência. Nascia assim a divisão da Ordem em dois Ramos, um em Malta, tendo por Grão Mestre o Duque de Nemours, e outro em Paris, tendo como Grão Mestre o Duque de Brissac. Na Espanha o Grão Mestre Emérito Francisco V continuava a governar de maneira plenamente autônoma o Grão Priorado espanhol, e neste curto período, a Ordem teve efetivamente três Grão Mestres, cada um governado parte das jurisdições nacionais.

O Duque de Nemours faleceu repentinamente em Paris, em 10 de março de 1970. O seu sobrinho, o Príncipe Miguel de Orléans havia sido designado Coadjutor do Grão Magistério, e passou a Governar a Ordem até que outro fosse Eleito para ocupar o posto de Grão Mestre.

Em Paris o Duque de Brissac foi Eleito para suceder o Duque de Nemours, e em Malta fora Eleito o antigo Grão Mestre Francisco V, filho do falecido Francisco IV. O Funeral do Duque de Nemours se deu em Neuilly, sendo assistido por Sua Majestade o Rei Humberto II da Itália, pelo Príncipe Miguel de Orléans, pela Princesa Isabel de Orléans, a Condessa de Witt, entre tantos outros membros da mais ilustre Nobreza européia. 

A viúva Duquesa de Nemours faleceu em Bayona em 27 de dezembro de 1993, sendo sepultada ao lado do marido, no antigo túmulo da Princesa Isabel de Bragança e Bourbon, Imperadora de Iuri do Brasil, conhecida como Mausoléu dos Condes d'Eu, pois os restos mortais da Princesa haviam anos antes sido transladados ao Brasil.     

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